O assédio moral na administração pública é uma questão séria e preocupante que atinge muitos servidores públicos no Brasil. Trata-se de uma prática abusiva, repetitiva e intencional, que visa desestabilizar emocionalmente o servidor, afetando sua dignidade, autoestima e condições de trabalho. Esta prática, pode ocorrer de diversas formas, incluindo humilhações públicas ou privadas, isolamento, sobrecarga de tarefas, críticas injustas e desproporcionais, desvio de função, além de exigências excessivas e prazos impossíveis de cumprir. CONCEITO JURÍDICO: O direito entende que o assédio moral configura uma violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, da legalidade, da igualdade e da moralidade administrativa, previstos na Constituição Federal de 1988. Na administração pública, essa prática é ainda mais grave, pois fere não apenas a dignidade do servidor, mas também compromete o serviço público, prejudicando a eficiência e a qualidade do atendimento à população. COMO IDENTIFICAR? O assédio moral pode se manifestar de várias maneiras, incluindo: 1. Isolamento e Exclusão: O servidor é deliberadamente excluído de reuniões, decisões importantes e atividades sociais no ambiente de trabalho. 2. Sobrecarga de Trabalho: Imposição de tarefas excessivas ou impossíveis de serem realizadas no tempo estipulado. 3. Desqualificação e críticas constantes: O servidor é constantemente criticado de maneira injusta e desproporcional, tendo suas habilidades e competências colocadas em cheque; 4. Intimidação e Ameaças: Uso de ameaças e intimidações para controlar ou manipular o servidor. Uma ameaça muito comum é a de colocar o servidor em disponibilidade, ou, transferi-lo para um local de difícil acesso, ou um local com demanda maior do que o anterior; 5. Humilhações Públicas: Exposição do servidor a situações vexatórias e humilhantes na frente de colegas e superiores; 6. Desvio de função: muitas vezes, o servidor é ordenado a fazer tarefas que não se enquadra no seu rol atribuições, que não são compatíveis com seu cargo. Ex: um analista judiciário que exerce um trabalho técnico e jurídico, é ordenado a limpar os banheiros do tribunal. Ocorre que esta tarefa compete ao cargo de servente, e não do analista. EFEITOS DO ASSÉDIO MORAL Os efeitos do assédio moral são devastadores, tanto para o servidor quanto para a administração pública. No âmbito pessoal, podem incluir: Saúde mental em declínio: Passar por episódios como estes podem gerar estresse, ansiedade e desenvolver outras doenças psicossomáticas, tais como a síndrome do pânico, depressão, e em casos mais graves, pode ocorrer ideações suicidas; Comprometimento do Ambiente de Trabalho: O ambiente de trabalho torna-se tóxico e insustentável, afetando a moral e o bem-estar de todos os envolvidos. E AGORA, COMO DEVO ME PROTEGER? 1. Conhecimento e Informação: Conhecer seus direitos é essencial para se proteger contra o assédio moral. O primeiro passo é estar familiarizado com o Regime Jurídico do seu órgão, conhecer as atribuições de seu cargo, que normalmente está prevista no edital do concurso que foi prestado. Além disso, é importante conhecer os deveres éticos e direitos dos servidores de seu cargo/órgão. Ambos são importantes instrumentos de defesa. 2. Documentação: Registre todos os episódios de assédio. Anote datas, horários, locais, conteúdo das interações e testemunhas. Guarde e-mails, mensagens e qualquer outro documento que possa servir como prova. Se possível, grave os episódios onde ocorrem as humilhações. 3. Apoio e Denúncia: Não enfrente o assédio moral sozinho. Procure apoio em colegas, sindicatos, associações de classe e, se necessário, em psicólogos ou advogados especializados. Denuncie o assédio aos superiores hierárquicos, à ouvidoria da instituição ou ao Ministério Público. 5. Buscar Orientação Jurídica. Um advogado especializado em direito do servidor público pode ajudar a entender as opções legais e os passos a serem tomados. Sendo assim, o combate ao assédio moral na administração pública é uma responsabilidade coletiva. É essencial que os servidores estejam cientes de seus direitos e que as instituições públicas se comprometam com a criação de um ambiente de trabalho saudável e respeitoso. Denunciar o assédio e buscar apoio são passos fundamentais para superar essa prática abusiva. Não hesite em buscar seus direitos e fazer a diferença. Dra. Yasmin Andressa Maria Quilim